quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Report #021 - Blind Date




(A propósito de um jantar com a Ana Lisa, uma Senhora do Norte, que nos quis conhecer, tendo assim o primeiro blind date da sua vida, e do facto de ela ter contado a sua "imprudente aventura" a familiares e colegas)

Moça,

Acreditas que eu acho muito estranho alguem achar estranho e ousado conhecer ao vivo uma pessoa que se tenha conhecido na net? Mas o que acho giro é que se nos tivessemos conhecido ao almoço num restaurante, ou no supermercado junto aos congelados, a reacção deles seria a mesma.

Os portugueses são muito cientes do SEU circulo social. Não falamos com ninguem que não seja respeitávelmente apresentado por um amigo, ou, de preferência, que não tenhamos visto crescer em casa do vizinho. Achamos mal que alguem meta conversa connosco, mesmo que seja para aliviar as duas horas de viagem de comboio. Para chamarmos "amigo" a alguem só ao fim de 452 dias de convivio, pelo menos e quanto mais melhor. Que menos disso, ainda é um estranho que não nos merece confiança nenhuma. Desde pequeninos que somos todos ensinados a não falar com estranhos e levamos isso á risca quando crescemos.

O Blade foi recentemente a Londres, ficou em casa de amigos e reparou que o circulo social deles foi todo construido no pub. Quando lá foi, deu com ele a acabar por falar com toda a gente, mas MESMO toda a gente que estava no pub. As pessoas metiam conversa com ele e diziam que moravam na rua mais abaixo ou mais acima, combinavam umas cervejas para o dia seguinte ou para irem visitar tal ou tal sitio.

Em Portugal quando vais a um sitio á noite, mesmo que o ambiente seja de completa festa, se reparares não é UMA festa, mas várias festas lado a lado, cada uma delas ignorando-se alegremente e se alguem se chega a uma dessas festas e diz: "Olá! Boa noite! Isto está muito giro!" repelem imediatamente o atrevido, como se ele fosse a encarnação simultanea de Atíla o Huno e Vlad Dracula. E depois queixam-se que têm azar no amor e não têm amigos...

É que isto é uma questão de saude (mental) publica! Se toda a gente só pudesse falar com quem conhece de nascimento estáva tramada! Olha eu: os miudos da minha rua e os meus vizinhos já não os vejo vai para 20 anos. Colegas de escola ou de curso é a mesma coisa. Significava que estaria limitado aos colegas de trabalho... Estava sozinho, deprimido e amargurado

Eu acho que a razão deste comportamento tem a ver com o facto de sermos a primeira geração urbana deste pais. Os nossos pais vieram "da terra", cresceram lá pelos anos 40, num meio pequeno em que toda a gente era familiar, frequentemente no sentido literal da palavra e só tiveram de falar com "estranhos" no primeiro dia em que chegaram à cidade. De uma forma ou de outra sentiram o impacto da multidão anónima e das histórias de chico espertismo dos citadinos (e da revanche dos "da terra", contada em tantas anedotas) e criaram uma blindagem a todo e qualquer contacto social não devidamente referênciado, que passaram aos filhos (Nós!)

No fundo continuamos a comportarnos como campónios lá na aldeia, de saca de sarapilheira na cabeça á laia de capuz, a olhar desconfiado para o estranho que passa.

domingo, 21 de outubro de 2007

Report #020 - Sinais exteriores de riqueza


Outro dia, uns manguelas que estavam na esplanada onde nos deliciavamos com um gelado daqueles grandes, com fruta, chantilly e topping de chocolate, comentavam que tinha bom aspecto e que deveria ser caro, enquanto olhavam para a nossa mesa.

O pretexto para os olhares gulosos era o gelado, mas o verdadeiro motivo era a Trinity.

Entre risinhos dos fuinhas, lá deu para perceber que, na cabecita deles, eu teria alugado a companhia profissional dela, seja por pagamento directo, seja por usufruto de bens, e que esse pagamento teria de ser alto, tal a quallidade da acompanhante.

O que me fez pensar que namorar com uma miuda como a Trinity é um sinal exterior de riqueza, assim como uma vivenda na Quinta da Marinha ou um barco na marina de Cascais.

Não me admirava nada que um dia destes me entrasse pela porta um fiscal das Finanças para examinar as minhas declarações de IRS desde 1936, sob o pretexto de exbir bens acima dos meus rendimentos declarados.

E teriam razão, o fiscal e os fuinhas. Andar com ela, é claramente um sinal da minha riqueza...

Money can't buy me love
Can't buy me love, everybody tells me so
Can't buy me love, no no no, no